8 de dez. de 2006

Artigo tirado de uma notícia de jornal

Até quando? Pergunta a primeira página do Correio Brasiliense.

Ótima pergunta.

Até quando os problemas ganharão importância de acordo apenas com a conveniência?

Atrasos de 3, 5, 20 horas, em aeroportos, ganharam, recentemente, cuidados mais do que especiais na oportuna mídia brasileira.

Pudera. Transtornos assim trazem prejuízos. Cancelam reuniões, desmarcam jantares de negócios, atrasam a programação dos telejornais.

Pois veja. O Sr. Alexandre Garcia quer viajar. Precisa viajar. O telejornal não pode esperar. Pega um táxi até o aeroporto, o relógio não para, o celular não descansa, o laptop agiliza o trabalho, já atrasado.

E o Seu Severino? Ele também precisa viajar.

O vizinho dá uma carona até a parada, o motorista abre a porta traseira do ônibus, mas só para a bagagem. O relógio do companheiro ao lado informa o atraso. As crianças! Ah, as crianças! Já devem estar esperando na rodoviária.

Alexandre espera. Severino também. 15 minutos. Meia hora. A inquietação começa. “Terei de ligar para a produção, enviar os textos por e-mail”. “Será que os menino tão com fome”?

45 minutos. Uma hora! Precisamos de uma satisfação!

“Bom dia, senhor, os vôos em Curitiba se atrasaram. Mal tempo, sistema sobrecarregado, problemas no Sindacta. Em breve estaremos informando sobre a chegada da aeronave. Caso permaneça o atraso, estaremos disponibilizando hospedagem e alimentação para os passageiros. Obrigada”.

“Sei não... espera aí na frente mesmo”.

1, 2, 3, 5, 10 horas esperando. Realmente, isso é um absurdo. Na verdade, absurdos.

O absurdo do Sr. Alexandre vira novela. Vai às primeiras paginas, vira tormento político, motivo de indignação no Congresso.

O absurdo do Seu Severino vira silencio. No máximo, motivo para xingamentos perdidos, em rodoviárias ou em conversas familiares.

E, com maquiada indignação, ainda perguntam: “até quando?”. “O povo já não agüenta mais”.

O povo, esse sim, agüenta. Até demais. Até quando?

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