13 de dez. de 2006

Obrigado, Murphy, pela maior aventura de minha vida.

Já passava das 9 da noite quando o grupo, com pouco mais de 10 amigos, viu surgir no meio da escuridão 2 pontos luminosos. De luz pouca e branca, eles andavam descompassados, saindo da mata em direção ao quiosque. Mal puderam acreditar os amigos no que viram.
“Heróis. Somos heróis de estar aqui”. Falamos um ao outro, abraçados e um tanto aliviados.

O destino é Goiânia. Mais especificamente, uma festa que aconteceria a pouco mais de 30 km da cidade. A origem, Brasília, onde o relógio já marcava 11 da manhã. No dia anterior, combinei de chegar à festa por volta das 10h. O atraso apenas começava.
A viagem, tão comum nos meus finais de semana, nunca trouxe maiores surpresas. Mas, afinal, quem me daria carona era meu grande amigo Jamaica. Com ele, nada é apenas um simples fato. Todo caso é acaso. E pelo óbvio, esta não seria apenas uma viagem.
Ansioso para sair logo, já me encontrava incomodado. Saindo às 11, estaria na festa lá pelas 13. Tudo bem, nada que prejudicasse muito.
Nem meia hora de estrada e a primeira parada. “Duas latinhas, por favor”.
A viagem corria bem. Conversávamos alegres e planejávamos como seria se, após a tensa entrevista de Jamaica, o futuro nos colocasse a morar juntos na capital federal. Cerca de uma hora de viagem, talvez menos, e um barulho começou discreto no motor. A princípio, Jamaica acusou ser escapamento furado. Mas como? Se o barulho vinha do motor? Tudo bem, segue o papo.
Mas o barulho aumentou.
Para nos entendermos, foi preciso aumentar um pouco o tom de voz. Em instantes, já aos gritos, concluímos:
- É. Parece que o barulho aumentou!
- Vamos parar e olhar.
- O quê?
- Encosta e vamos ver o que é!
Jamaica parou o carro e, com nossa ignorância sutil em mecânica, não fizemos idéia do que era. Mas como era alto o barulho!
E não se esqueça. Falamos do Jamaica. Uma vez com ele, o barulho também não seria qualquer barulho. No caminho à procura de um mecânico, não era de se estranhar que toda a cidade olhasse espantada para a estrondosa caminhonete. Quando enfim chegamos a uma oficina, o diagnóstico do mecânico não foi nada animador.
- Junta do cabeçote. Fica pronto hoje não. Ou vocês pegam um guincho para Goiânia ou podem procurar um lugar pra dormir, que o serviço só fica pra amanhã.
A idéia do guincho era impensável, pelo alto custo financeiro. “Que azar”! Reclamei eu. “Quê isso, tivemos foi sorte, quebramos na entrada da cidade, imagina se o carro parasse lá no meio do nada”. Esse otimismo do Jamaica não me convence. Fomos para outra oficina, confiantes em uma salvadora alternativa.
- Olha, dá para arrumar em umas 3, 4 hora. Mas ainda tem que esperar o menino voltar do almoço.
Pelo visto, ainda ficaríamos muito tempo na pequena cidade do interior goiano, Alexânia. Pensei em tomar um ônibus para Goiânia, mas a próxima saída era apenas às 15h, ainda a duas horas. Parceiro é parceiro, e resolvi esperar o conserto da caminhonete, junto com meu amigo barca.
E éramos dois frustrados no meio da praça local. Desanimados com as longas e entediantes horas que nos aguardavam. Mas olha só, um bar aberto! Até arrumadinho, parecendo um quiosque de litoral. Era ali mesmo que ficaríamos.
Logo na primeira cerveja, imaginem só, meu amigo cai da cadeira, derruba a garrafa, quebra o copo. É...
Enfim, acompanhados de uma cerveja gelada, ríamos da nossa seqüência de azar. Mal sabíamos, porém, que ainda era pequena, mínima.
Muitas coisas aconteceram, horas se passaram e cervejas foram bebidas. Quando o relógio apontou 17h30, estava eu no palco do bar, tocando clássicos do rock no violão. Metallica, Pearl Jam, Pink Floyd e até Iron Maiden. O público da cidade começou a encher o quiosque, bicicletas não paravam de chegar, as pessoas cantavam e pediam suas favoritas. Agora a contragosto, teríamos que ir embora. O carro estava pronto e, antes de deixarmos o bar, abraçávamos o dono do estabelecimento, os garçons, os músicos que por nós foram interrompidos, prometemos retorno e, efusivamente, nos despedimos dos novos amigos.
Estrada de novo. Mas, é claro, mais 2 latinhas antes da partida.
A viagem não durou nem mais uma hora. Numa subida, o carro morreu e não ligou mais.
- Bicho, jogamos merda na cruz, só pode.
- Que nada, até que estamos com sorte. O carro morreu logo no posto da polícia rodoviária. Imagina se quebra lá no meio do nada.

Ainda mato esse Jamaica. Eu juro.

E ali estávamos, frustrados e entediados, de novo. 19h, já anoitecendo. E estou convencido de que, se não estivesse com o Jamaica, não teria começado a chover.
Meu pai, numa mistura de vontade e impossibilidade de ajudar, nos pegou no posto policial, que não era longe da entrada de Goiânia. Mas um compromisso com minha avó não o permitiu nos levar em casa, nem emprestar o carro. E a noite tomou conta do dia.
Ele nos deixou logo na entrada da cidade, onde firmamos o seguinte compromisso. Deus, sei lá por quê, não queria que fôssemos a essa festa. Mas somos insistentes. Vamos pedir carona e terminar de percorrer os mais de 30km que nos afastavam da chácara.
- Vamos nessa!
Na rodovia, um polegar fazia o sinal clássico do caroneiro. O outro fazia um sinal de positivo, talvez na intenção de parecer simpático aquele jovem com mochila nas costas.
Juntos, pesamos 200 quilos. Estávamos mal vestidos, exalando a horas e horas de bar e com latas de cerveja na mão. Tudo isso indicava fracasso garantido em nossa intenção de arrumar carona para o local da festa.
E foi que apareceu a Dona Graça.
Não sei bem ao certo o que esse nome podia nos representar naquele momento. Só sei que em seu carro entramos, com destino a Bela Vista.
A jovem e simpática senhora, de 53 anos, paulista, ex-professora de português e um dia vestibulanda de direito, nos acompanhou com um bom papo. O assunto passou pelo interior de São Paulo, foi a Guimarães Rosa e por um pouco de nossa saga naquele sábado de dezembro.
Não faço idéia de quanto tempo durou a carona, mas logo estávamos ali, na beira da rodovia, em frente à estrada de chão que levava à chácara. As palavras foram de agradecimento, mas a vontade era dizer à Dona Graça: pelo amor de Deus, nunca mais faça isso que a senhora fez hoje!
A estrada estava totalmente lameada e havia um breu total. Nem a lua apareceu para ajudar. Não enxergávamos um palmo à nossa frente. Eu peguei o iPod e Jamaica, o celular. Seriam nossos guias.
A caminha deve ter durado uns 10 minutos. Ainda meio embriagados, nos abraçamos, parecendo não acreditar no que fizemos para estar ali. Naquele pouco tempo, além de sofrer alguns tombos, passou-nos à memória o que fora aquele dia. O carro quebrou duas vezes, passamos horas e horas em Alexânia, tudo dando errado, prejuízos, 11 horas de atraso, ninguém podendo nos ajudar, apenas um ao outro. Tudo isso parecia ser puro azar. E era assim que eu pensava. Mas Jamaica, não. Ele viu tudo como uma ótima oportunidade para uma grande aventura. E estava mais do que certo. Até bons amigos fizemos. Nos divertimos, rimos de nós e dos nossos percalços. Vivemos situações que nunca aconteceriam numa viagem rotineira. Aquela pequena caminhada com meu bom e velho amigo Jamaica, como era de se esperar, não foi apenas uma caminhada. Talvez uma grande lição. De como transformar o simples em inesquecível.
Já passava das 9 da noite quando o grupo, com pouco mais de 10 amigos, viu surgir no meio da escuridão 2 pontos luminosos. De luz pouca e branca, eles andavam descompassados, saindo da mata em direção ao quiosque. Mal puderam acreditar os amigos no que viram. Gritos de festejo e abraços cumprimentaram os recém chegados.

- Heróis. Somos heróis de estar aqui.

8 de dez. de 2006

Artigo tirado de uma notícia de jornal

Até quando? Pergunta a primeira página do Correio Brasiliense.

Ótima pergunta.

Até quando os problemas ganharão importância de acordo apenas com a conveniência?

Atrasos de 3, 5, 20 horas, em aeroportos, ganharam, recentemente, cuidados mais do que especiais na oportuna mídia brasileira.

Pudera. Transtornos assim trazem prejuízos. Cancelam reuniões, desmarcam jantares de negócios, atrasam a programação dos telejornais.

Pois veja. O Sr. Alexandre Garcia quer viajar. Precisa viajar. O telejornal não pode esperar. Pega um táxi até o aeroporto, o relógio não para, o celular não descansa, o laptop agiliza o trabalho, já atrasado.

E o Seu Severino? Ele também precisa viajar.

O vizinho dá uma carona até a parada, o motorista abre a porta traseira do ônibus, mas só para a bagagem. O relógio do companheiro ao lado informa o atraso. As crianças! Ah, as crianças! Já devem estar esperando na rodoviária.

Alexandre espera. Severino também. 15 minutos. Meia hora. A inquietação começa. “Terei de ligar para a produção, enviar os textos por e-mail”. “Será que os menino tão com fome”?

45 minutos. Uma hora! Precisamos de uma satisfação!

“Bom dia, senhor, os vôos em Curitiba se atrasaram. Mal tempo, sistema sobrecarregado, problemas no Sindacta. Em breve estaremos informando sobre a chegada da aeronave. Caso permaneça o atraso, estaremos disponibilizando hospedagem e alimentação para os passageiros. Obrigada”.

“Sei não... espera aí na frente mesmo”.

1, 2, 3, 5, 10 horas esperando. Realmente, isso é um absurdo. Na verdade, absurdos.

O absurdo do Sr. Alexandre vira novela. Vai às primeiras paginas, vira tormento político, motivo de indignação no Congresso.

O absurdo do Seu Severino vira silencio. No máximo, motivo para xingamentos perdidos, em rodoviárias ou em conversas familiares.

E, com maquiada indignação, ainda perguntam: “até quando?”. “O povo já não agüenta mais”.

O povo, esse sim, agüenta. Até demais. Até quando?

Felicidades aos grandes amigos Pedro e Xanda.

Lembra daquela história de unha e carne, metades da laranja, feitos um para o outro?
Não é que existe mesmo!

Para muitos, 10 anos de namoro é um baita tempo. Ainda bem. Nesse período, muitas e muitas histórias foram construídas. Histórias divertidas, emocionantes, contagiantes. E você fez parte delas. Viu como este casal cresceu junto, amadurecendo e formando o começo de uma vida inteira, um ao lado do outro. Hoje é quase impossível falar de Pedro sem Xanda e Xanda sem Pedro, não é verdade?

E muitas vezes você escutou ou até mesmo fez esta pergunta: “quando é que vocês vão se casar, hein?”.

Enfim, chegou a hora. Dezembro de 2006 será um mês inesquecível para eles. O mês do “sim”, do “para sempre”, do “marido e mulher”.


Obrigado por fazer parte de nossa história.

Pedro e Alexandra.


Texto para convite de casamento.